Quem trabalha no setor já sabe: o turismo LGBT+ é um dos segmentos que mais faturam no Brasil, e estudos mostram que ele é até 30% mais rentável do que o “convencional” em âmbito global. Isso explica, portanto, a movimentação de extraordinários US$ 100 bilhões por ano na economia, índice que tem tudo para continuar crescendo.
A verdade é que o(a) turista LGBT+ adora viajar – e, de acordo com o Sebrae, muita gente vai desbravar a gringa todos os anos. A Organização Mundial do Turismo endossa o potencial deste segmento, afirmando que ele corresponde a 10% do mercado e traz 15% dos resultados econômicos.
Diante deste cenário tão promissor, não faz sentido não fazer barulho com esses dados. E há muita informação para divulgar! Quem reitera isso é Clovis Casemiro, coordenador de membros na IGLTA Brasil, que topou conceder uma entrevista pra nós. Inclusive, se você ainda não conhece a IGLTA, nossa “aula” começa aqui: esta é a sigla em inglês para Associação Internacional de Turismo LGBT+, cujo objetivo é fornecer recursos e informações de viagens específicas para o(a) turista e para o turismo LGBT+.
Nosso convidado não mediu esforços para compartilhar dicas e insights muito legais para quem atua na indústria de viagens. Entretanto, se este não for o seu caso, isso está bem longe de ser um problema! Afinal, a ideia é chamar a atenção para um mercado em desenvolvimento constante – e quanto mais gente manjar dele, melhor!
A IGLTA foi fundada em 1983 e é a rede líder mundial de empresas de turismo acolhedoras LGBT+. Nossa missão é fornecer recursos e informações de viagens enquanto trabalhamos continuamente para promover a igualdade e a segurança no turismo LGBT+ no mundo todo. Os membros da IGLTA incluem acomodações amigáveis para este público, assim como transporte, destinos, prestadores de serviço, agentes de viagens, operadores turísticos, eventos e mídia de viagem em mais de 80 países.
O papel da entidade é muito importante justamente porque cria um espaço global para todos que desejam oferecer seus serviços e produtos pra essa galera ávida por viajar. E há vários tipos de turistas para atender: dos culturais, esportivos e fãs de gastronomia aos que viajam para prestigiar paradas ou festivais de música, por exemplo.
São aqueles que oferecem segurança pública e programas contra preconceito e discriminação para moradores(as) e viajantes LGBT+. Felizmente, hoje já são muitos destinos com estrutura para atender a esta demanda.
O Brasil, aliás, tem diversas leis que combatem a LGBTfobia – só para lembrar, homofobia e transfobia são crimes no nosso país. Aqui nós podemos nos casar e adotar filhos, ao passo que as pessoas trans podem usar seus nomes sociais. Inclusive, o advogado e ativista político Paulo Iotti, um dos responsáveis pela criminalização da LGBTfobia em solo verde-amarelo, lançou um livro sobre o assunto. Fica a dica de leitura: “O STF, a homotransfobia e seu reconhecimento como crime de racismo”.
No Brasil, alguns dos destinos que se destacam são: São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Pipa (RN) e Florianópolis (SC).
Por outro lado, no exterior, ressalto os seguintes: Osaka (Japão), Tel Aviv (Israel), Cidade do Cabo (África do Sul), Sevilha (Espanha) e Miami (EUA).
Eu sempre digo que os(as) viajantes LGBT+ são um recorte diagonal de tudo o que entendemos como turistas. Como eu já comentei em outra pergunta, há pessoas que se amarram em programas culturais e exposições de arte, que topam qualquer aventura para curtir um festival de música ou assistir a uma ópera, que preferem destinos de praia, de neve, de ecoturismo e por aí afora.
Não posso falar em termos de pesquisas brasileiras, mas meus 20 anos de experiência na IGLTA me permitem dizer que grande parte gosta de viajar a dois ou em grupos de amigos. Além disso, muitos casais LGBT+ estão se casando, tendo seus próprios filhos e/ou aderindo à adoção. Sendo assim, é preciso se atentar às necessidades de todos os tipos de família. Em contrapartida, há uma boa quantidade de viajantes solo disposta a se juntar a grupos em cruzeiros, resorts e semanas temáticas “gay ski”, pra citar alguns exemplos.
Já o tipo de hotéis e resorts depende muito do orçamento de cada um(a), bem como da forma como esse hotel ou resort se apresenta no mercado. Os membros da IGLTA sempre divulgam programas para casais gays ou lésbicas, com fotos e convites para casamento ou lua de mel. Outro destaque vai para Ft. Lauderdale, na Flórida. Isso porque a cidade, há mais ou menos cinco anos, começou a desenvolver um trabalho para pessoas trans como turistas, o que foi muito bem recebido. Também tem sido mais comum ver turistas trans inseridos(as) nos programas de hotéis e resorts. Tudo isso representa um grande avanço para nós.
Vale dizer ainda que os eventos específicos para o público LGBT+ tendem a fazer muito sucesso e são igualmente diversos. O Festival H&H atrai centenas de gays masculinos e poucas lésbicas ou pessoas trans, mas existem festas para todas as letras da nossa comunidade.
Este é um valor de uma pesquisa mundial, mas com certeza podemos aplicar ao cenário brasileiro. A facilidade de não depender de férias escolares (a não ser as novas famílias LGBT+ com filhos, claro) e, portanto, de ter um calendário mais flexível faz com que a nossa comunidade viaje mais.
Simultaneamente, o turismo LGBT+ é uma forma de o(a) viajante ter a liberdade de ser quem é onde se sente mais seguro. E, às vezes, essa sensação não é possível em sua cidade. Logo, viajar faz parte dos desejos da comunidade.
Essa informação é da CMI e diz respeito aos 10% do PIB do turismo americano. Apesar disso, podemos adotar o mesmo raciocínio no Brasil, já que a Organização Mundial do Turismo afirma que o turismo LGBT+ responde por 10% do mercado e traz 15% dos resultados econômicos. O site da IGLTA tem uma série de trabalhos realizados com a OMT, bem como com a Comunidade Europeia de Turismo. Há até mesmo pesquisas sobre os(as) turistas LGBT+ após a pandemia de COVID-19. Ou seja, vale a pena conferir esses dados.
Pesquisas recentes que a IGLTA fez com turistas LGBT+ em vários países deixaram claro que existe uma tendência enorme para destinos de natureza e praias desertas. Em outras palavras, para lugares com menos fluxo de pessoas. No entanto, a vacinação em massa tem mudado um pouco essa realidade. Basta ver o Carnaval no Rio de Janeiro com todos os points LGBT+ lotados. Isso aconteceu nas praias, nas festas e até mesmo na Sapucaí, com a escola de samba São Clemente homenageando um casal gay.
Para coroar, os cruzeiros temáticos da Atlantis Events e da Olivia Cruise estão com ocupação máxima e as Paradas do Orgulho LGBT+ estão retornando. Só pra se ter uma ideia, em 2019 o evento rendeu à cidade de São Paulo R$ 405 milhões nos cofres públicos.
Trata-se, basicamente, do dinheiro deixado pela comunidade LGBT+ em qualquer lugar que haja consumo. Nossa batalha, porém, é contra o “pinkwashing“. Ou seja: empresas que se dizem LGBT+ friendly para ganhar a aprovação da comunidade e para fortalecer a marca, sem, contudo, terem políticas legítimas voltadas a essas pessoas. Essas empresas não trazem nenhum retorno a este público: nem em empregos, nem em treinamentos e nem abertura para participarem como membros de ações da comunidade.
Como sempre, conhecer bem o(a) cliente. Ao identificar que é LGBT+, deve compartilhar detalhes relevantes, daqueles que nós gostamos de ouvir. A dica é estudar os bairros e os restaurantes LGBT+ friendly e recomendar as melhores atrações. Vai vender Paris? Então sugira que fique no bairro do Marais; em Madri, a recomendação é Chueca. Em São Paulo e Rio de Janeiro, as sugestões são centro e Ipanema, respectivamente.
Além disso, o roteiro deve refletir o que o(a) passageiro(a) procura: uma viagem com uma pegada cultural, passeios em família ou vida noturna agitada? Veja também se a data da viagem coincide com algum evento voltado ao público LGBT+ e se a pessoa se amarra em uma festa. Esta pode ser a cereja do bolo! Cidades como Nova York, São Francisco, Paris e São Paulo são palcos para grandes eventos e se preocupam em oferecer experiências positivas.
Para fechar com chave de ouro, considere não só os gostos, mas também o orçamento do(a) cliente. Sempre!
E aí, você gostou de saber mais sobre o turismo LGBT+? Quais informações você ainda não conhecia? Concorda com as dicas que o nosso entrevistado mencionou? Conta pra gente nos comentários! E lembre-se: se a vontade de viajar bater forte, não deixe de contar com o apoio de um(a) agente de viagens. Afinal, esta é a forma mais segura de viajar e a única que te livra de perrengues!
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